terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

UM ELOGIO À CLAREZA

                                                                        DO - Psicanálise Lacaniana IPLA


UM ELOGIO À CLAREZA
Jorge Forbes

Por obra e graça de Carla Almeida, membro do Corpo de Formação do ano de 2012, temos acesso a um fragmento do comentário que Jorge Forbes fez, em 23 de abril de 2012, no IPLA.•.
Eu acho engraçado quando acham uma coisa difícil nas ocasiões em que a seguinte conclusão deveria ser óbvia para qualquer pessoa: eu não entendi. Na psicanálise, nós perdemos essa tranquilidade para dizer “eu não entendi” ou “eu não estou entendendo”. Agimos como se a psicanálise fosse uma mística, como se nós tivéssemos que fazer com que as pessoas não entendessem de uma maneira mística ou, mesmo, que tivéssemos que falar para impressionar os burgueses.  Foi por isso que comecei este comentário mencionando Rilke e Diderot. O modo como eles escrevem ensina que, quando você está claro, não perde a poesia. Você não tira o equivoco e a surpresa. Neste caso, você coloca o equivoco e a surpresa no lugar deles: na impossibilidade do falar. Não é falando de amor que você fala de amor. É falando de várias outras coisas que as pessoas veem que você fala de amor.

Ser claro pede um passinho além da adjetivação. Lembremos que o real vem dentro da substantivação, não da adjetivação. Não é preciso tentar falar de uma coisa tornando-a complicada. Isso é a psicanálise do bobo! O que é complicado é a psicanálise do real. Quando existe uma cumplicidade do “estamos nos entendendo” nos momentos em que nós não estamos nos entendendo, a psicanálise está indo por água abaixo. Um dia destes, falando com uma jovem moça que se sentou ao meu lado em um voo, no trajeto Bahia - São Paulo, fui instigado por ela a narrar a respeito de meu percurso, como era a vida de Lacan etc. Comentando com ela a respeito de meu percurso de promovedor de instituições, de criador e de fomentador, me dei conta de que, em termos de Brasil, o principal elemento das cisões ocorridas sempre foi a CLAREZA. Nunca me furtei do imperativo de exigi-la, o que trouxe muita confusão. Nem poderia tê-lo feito, aprendi isso com Lacan.

É pena que, em nosso meio, pedir clareza virou uma agressão. Essa interpretação significa que o meio está doente. Não deveria ser assim: a agressão é a falta de clareza. Era isso o que eu queria dizer: a clareza é fundamental para que a gente não enlouqueça, ainda mais em um terreno tão propício a isso. A gente trabalha com uma matéria bastante difícil e bastante densa. Como é incompleta na sua significação, a clareza é um vetor importante. Não podemos abrir mão dela.