UM ELOGIO À CLAREZA
Jorge Forbes
Por obra e graça de Carla Almeida, membro do Corpo de Formação do ano de 2012, temos acesso a um fragmento do comentário que Jorge Forbes fez, em 23 de abril de 2012, no IPLA.•.
Eu acho engraçado
quando acham uma coisa difícil nas ocasiões em que a seguinte conclusão deveria
ser óbvia para qualquer pessoa: eu não entendi. Na psicanálise, nós perdemos
essa tranquilidade para dizer “eu não entendi” ou “eu não estou entendendo”.
Agimos como se a psicanálise fosse uma mística, como se nós tivéssemos que fazer
com que as pessoas não entendessem de uma maneira mística ou, mesmo, que
tivéssemos que falar para impressionar os burgueses. Foi por isso que comecei este comentário
mencionando Rilke e Diderot. O modo como eles escrevem ensina que, quando você
está claro, não perde a poesia. Você não tira o equivoco e a surpresa. Neste
caso, você coloca o equivoco e a surpresa no lugar deles: na impossibilidade do
falar. Não é falando de amor que você fala de amor. É falando de várias outras
coisas que as pessoas veem que você fala de amor.
Ser claro pede um
passinho além da adjetivação. Lembremos que o real vem dentro da
substantivação, não da adjetivação. Não é preciso tentar falar de uma coisa
tornando-a complicada. Isso é a psicanálise do bobo! O que é complicado é a
psicanálise do real. Quando existe uma cumplicidade do “estamos nos entendendo”
nos momentos em que nós não estamos nos entendendo, a psicanálise está indo por
água abaixo. Um dia destes, falando com uma jovem moça que se sentou ao meu
lado em um voo, no trajeto Bahia - São Paulo, fui instigado por ela a narrar a
respeito de meu percurso, como era a vida de Lacan etc. Comentando com ela a
respeito de meu percurso de promovedor de instituições, de criador e de
fomentador, me dei conta de que, em termos de Brasil, o principal elemento das
cisões ocorridas sempre foi a CLAREZA. Nunca me furtei do imperativo de
exigi-la, o que trouxe muita confusão. Nem poderia tê-lo feito, aprendi isso
com Lacan.
É pena que, em nosso
meio, pedir clareza virou uma agressão. Essa interpretação significa que o meio
está doente. Não deveria ser assim: a agressão é a falta de clareza. Era isso o
que eu queria dizer: a clareza é fundamental para que a gente não enlouqueça,
ainda mais em um terreno tão propício a isso. A gente trabalha com uma matéria
bastante difícil e bastante densa. Como é incompleta na sua significação, a
clareza é um vetor importante. Não podemos abrir mão dela.
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