domingo, 21 de novembro de 2010

Fundamentos de uma práxis


Introduzir o leitor no ensino de Jacques Lacan não é uma tarefa fácil. Os conceitos, apesar de serem construídos de forma rigorosa, deslizam no paradoxo e se entrecruzam. A entrada no seu pensamento é um trabalho árduo que exige muitas horas dedicadas à leitura, colocando em cena uma partida em que as cartas são lançadas para dar início a um jogo que se chama DESEJO. Fora a dificuldade de encontrar alguns de seus seminários, já que estes permanecem inéditos e circulam em transcrições impedidas, ao nível jurídico, de serem distribuídas comercialmente. O direito de transcrição de todos os seminários de Jacques Lacan pertence a seu genro Jacques-Alain Miller. Se isto não impediu que fossem feitas outras transcrições, pelo menos retirou delas o direito de serem distribuídas comercialmente. Como exemplo, gostaria de citar as excelentes transcrições feitas na França pela Association Freudienne. Entretanto, esses textos, não só não apresentam o autor e/ou autores deste trabalho mas também vêm com a seguinte notação: “Publication hors commerce. Document interne à Association Freudienne et destiné à ses membres”. No Brasil, existem traduções de alguns seminários transcritos, que também são publicados sem indicação do tradutor e da instituição psicanalítica. Sem nomear, por motivos óbvios, uma instituição psicanalítica no Riode Janeiro tem uma excelente tradução do Seminário XXI, Les Non-Dupes Errent, que pode ser comprada por qualquer um que tenha interesse em adquiri-la, cuja única indicação na folha de rosto é a seguinte: “Exclusivamente para circulação interna às Instituições Psicanalíticas”. Ultrapassada essa barreira, iremos nos defrontar com outra: não vamos encontrar na psicanálise nenhuma Promessa de Felicidade. Freud, muito antes de Lacan, já trazia a questão de que não há nenhum objeto para satisfazer, plenamente, o desejo e o gozo do homem. Mesmo assim, os meios de comunicação e os apologistas do bem-estar social acenam com fórmulas pré-fabricadas de uma sexualidade sem traumas. Haveria mal-estar maior do que lidar com um saber que a todo instante nos lembra a nossa condição de um ser em falta? Aliás, Freud, quando afirma que o homem é o único animal destinado à neurose, à perversão, à psicose e à criação, não estaria indicando esse ser excêntrico que vem do real para habitar o universo da linguagem?

pesquisa/texto-sueliaduan
O Amor na Literatura e na Psicanálise.Ferreira,Nadiá Paulo.Rio de Janeiro:Dialogarts, 2008.
As palavras e as coisas. M. Foucault, São Paulo :Martins Fontes, 2007



Nenhum comentário:

Postar um comentário