A problemática da verdade está presente na obra de Lacan desde o início, acentuando-se à medida que ele avança. Assim, é raro um texto em que ele não a aborde, de uma ou outra forma. Já em l936, Lacan relaciona o conceito de verdade à natureza da realidade enquanto realidade psíquica, ou seja: àquilo que é verdade para o sujeito. Assim, o conceito de verdade é relativo ao objeto de estudo, e no caso da psicanálise é relativo aos fatos do desejo. Isto quer dizer que o desejo é tão real para o sujeito quanto à realidade factual o é para a ciência positiva.
É, pois, nesse nível da realidade psíquica que se deve situar a questão da verdade, tanto para a psicologia, quanto para a psicanálise. A noção de verdade volta com toda força no texto de 1946 sobre a causalidade psíquica, onde é feita uma crítica vigorosa do organo-dinamismo. Opera-se uma mudança capital: se quer fundar uma psicologia científica, as questões devem ser postas em termos de verdade, e não de realidade. Aí a verdade é posta como condicionando, na sua essência, o fenômeno da loucura, que tem como equivalente a verdade do psiquismo. Isto já mostra, de alguma forma, o caminho que Lacan tomará: a adoção de um conceito de verdade avesso à conaturalidade com o real. É segundo esta perspectiva que vamos encontrar a análise do “caso Dora”, pontuando, através de uma série de "renversements dialectiques", a descoberta da verdade do sujeito.
A questão é retomada na análise do “Homem dos ratos”, cuja articulação com o Poesia e Verdade de Goethe serve de ponto de apoio para colocar de forma clara a questão da ficção e da verdade. Este texto antecipa de alguma forma uma tese que será expressa no “Discurso de Roma”, onde a dialética da palavra plena e da palavra vazia recoloca a questão da verdade em termos que fogem ao binômio verdadeiro-falso. Aí fica claro: a psicanálise busca a verdade, e não a realidade. E a verdade nasce na palavra A partir de então a verdade vai aparecer em quase todos os textos de Lacan, como algo intrínseco à natureza e ao próprio destino da psicanálise e sua prática. Neste sentido, o Seminário I é o início de uma seqüência segundo a qual a questão da verdade vai se repetir em diferentes momentos da obra como algo crucial.
Afinal, se a descoberta de Freud põe em questão a própria verdade), o de que se trata é de constituir um saber acerca da verdade o sujeito desenvolvendo aí a sua verdade pois a dialética da verdade é o que está no coração da descoberta analítica. Por isso, em 1977 Lacan dirá que ao longo "desses 25 anos"se esforçou para dizer a verdade acerca do saber que funda a psicanálise. A fim de evitar a "reverência idólatra pelas palavras" e de vigiar pelo seu uso, convém se perguntar de que verdade Lacan fala, antes que se dê livre curso a mais uma "palavra ídolo” (Heidegger). Quando Lacan usa a palavra "verdade" o que quer ele dizer? Qual o seu conceito de verdade? Será o mesmo de adaequatio rei et intellectus, tão antigo quanto à própria metafísica? Convém saber do que se fala, pois, a dizer do próprio Lacan, há um logro fundamental na linguagem humana, e, se por um lado a palavra introduz no real a dimensão de verdade, por outro ela é fundamentalmente enganadora.
É, pois, nesse nível da realidade psíquica que se deve situar a questão da verdade, tanto para a psicologia, quanto para a psicanálise. A noção de verdade volta com toda força no texto de 1946 sobre a causalidade psíquica, onde é feita uma crítica vigorosa do organo-dinamismo. Opera-se uma mudança capital: se quer fundar uma psicologia científica, as questões devem ser postas em termos de verdade, e não de realidade. Aí a verdade é posta como condicionando, na sua essência, o fenômeno da loucura, que tem como equivalente a verdade do psiquismo. Isto já mostra, de alguma forma, o caminho que Lacan tomará: a adoção de um conceito de verdade avesso à conaturalidade com o real. É segundo esta perspectiva que vamos encontrar a análise do “caso Dora”, pontuando, através de uma série de "renversements dialectiques", a descoberta da verdade do sujeito.
A questão é retomada na análise do “Homem dos ratos”, cuja articulação com o Poesia e Verdade de Goethe serve de ponto de apoio para colocar de forma clara a questão da ficção e da verdade. Este texto antecipa de alguma forma uma tese que será expressa no “Discurso de Roma”, onde a dialética da palavra plena e da palavra vazia recoloca a questão da verdade em termos que fogem ao binômio verdadeiro-falso. Aí fica claro: a psicanálise busca a verdade, e não a realidade. E a verdade nasce na palavra A partir de então a verdade vai aparecer em quase todos os textos de Lacan, como algo intrínseco à natureza e ao próprio destino da psicanálise e sua prática. Neste sentido, o Seminário I é o início de uma seqüência segundo a qual a questão da verdade vai se repetir em diferentes momentos da obra como algo crucial.
Afinal, se a descoberta de Freud põe em questão a própria verdade), o de que se trata é de constituir um saber acerca da verdade o sujeito desenvolvendo aí a sua verdade pois a dialética da verdade é o que está no coração da descoberta analítica. Por isso, em 1977 Lacan dirá que ao longo "desses 25 anos"se esforçou para dizer a verdade acerca do saber que funda a psicanálise. A fim de evitar a "reverência idólatra pelas palavras" e de vigiar pelo seu uso, convém se perguntar de que verdade Lacan fala, antes que se dê livre curso a mais uma "palavra ídolo” (Heidegger). Quando Lacan usa a palavra "verdade" o que quer ele dizer? Qual o seu conceito de verdade? Será o mesmo de adaequatio rei et intellectus, tão antigo quanto à própria metafísica? Convém saber do que se fala, pois, a dizer do próprio Lacan, há um logro fundamental na linguagem humana, e, se por um lado a palavra introduz no real a dimensão de verdade, por outro ela é fundamentalmente enganadora.
Pesquisa/texto-sueliaduan
Título no blog -sueliaduan
Breve discurso sobre a verdade em Lacan
Luís F.G. de Andrade
Limites da sublimação na criação literária
Ana Cecília Carvalho
Sueli, adorei o blog. Gostei imensamente de cada texto e é para mim uma alegria tê-lo encontrado 'por acaso'.
ResponderExcluirSobre este texto em particular, a questão da verdade do sujeito, ela está atrelada à própria linguagem e ao ato de nomear, como você mesma disse. Nei Duclós, no prefácio de um livro que li recentemente diz: "há um núcleo impermeável às palavras". Então a verdade, mesmo e principalmente na literatura, não se trata do significado, mas sim do significante (como Lacan afirma, se não me engano), não é?
Foi perfeita a forma como você traduziu algo que por vezes é tão difícil aceitar como possibilidade e compreender.
Espero ler mais textos seus em breve.
Um grande abraço e láureas pelo trabalho,
Bruno.
Fico muito feliz, Bruno.Muito bom saber que gostou. Eu "sigo" o Nei Duclós no twitter já li muita coisa ,excelente, dele e o admiro muito.
ResponderExcluirQuanto ao seu elógio " láureas pelo trabalho" quem os merece são os autores dos textos (citados no rodapé),eu faço pesquisa e em alguns não resisto e me manifesto,rs mas é só.
Sou uma apaixonada e eterna aprendiz de Lacan.:o)
forte abraço.
Poxa que bacana esse texto Su, cheio de () para pensar...
ResponderExcluirbjs
É sim muito bom, Ká!
ResponderExcluirbjus