Euforia Depressiva
Jorge Forbes
As grandes revistas semanais
de circulação nacional dedicam cada vez mais páginas à seção de comportamento.
Antes, o xodó era a economia, agora é o comportamento. E tome remédio para tudo.
A se fiar na propaganda, moças já podem fabricar o namorado ideal : potente,
magro e bem humorado. Basta preparar um coquetel de Viagra, Xenical e Prozac.
Repetem-se matérias sobre depressão, sobre o mal do fim do século, sobre a
doença do próximo milênio, enfim, há uma euforia depressiva. Constata-se o seu
aparecimento em todo lugar mas não se pergunta o porquê. Por que temos mais
depressão ? Não, não é só porque agora podemos fazer melhores diagnósticos.
Seria fácil demais nos restringirmos a esta explicação. Entendo ser mais
convincente pensar que esses tempos são propícios à covardia moral. Para que
arriscar tomar para si a incerteza de uma aposta quando, como dizia, para tudo
parece ter remédio ? Depressão, nesse contexto, é o novo nome do velho medo, da
insegurança, da dúvida... da dor de cotovelo, eternas doenças do
homem.
Esta crítica não desmerece a efetiva contribuição dos novos
medicamentos, quando bem administrados. O problema é a ideologia ignorante e
parasitária que os acompanha. A posição dos psicanalistas está dividida quanto à
colaboração terapêutica farmacológica. Uns pensam que Freud foi o primeiro
biólogo da mente e que as neurociências vieram confirmar as hipóteses do
fundador. Outros defendem que nenhuma objetivação do ser humano será capaz de
apagar a responsabilidade subjetiva de cada um frente a seu desejo. A opção
parece evidente e no entanto ainda há muita confusão neste pedaço. Na base está
o engano de se pensar a representação do cérebro como sendo o próprio cérebro.
Para a psicanálise não há como acabar com o mal entendido, não existe o homem
natural. Como diria Drummond, tentar imitar o mundo, chamar-se Raimundo, pode
ser uma boa rima mas não é uma solução.
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